Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Iphan abre nesta quinta-feira, 17/10, a exposição “Arte do barro, arte na vida”, formada por peças do Vale do Jequitinhonha. Tradição foi reconhecida, em 2018, pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artistico de Minas Gerais, como Patrimônio Imaterial e Cultural do Brasil
Foto de Oscar Liberal – Jose Maria na aplicacao da nata do barro, Corrego Santo Antonio, Carai Vale do Jequitinhonha

Caraí fica a 32km da rodovia Rio/Bahia, na entrada de Padre Paraíso,  um pequeno município do Vale do Jequitinhonha. Lá, encontram-se as comunidades de Córrego do Santo Antonio e Ribeirão do Capivara, onde vivem grandes mestres e suas famílias, produtores de uma rica e tradicional cerâmica.  Os trabalhos com barro no Vale começaram há quase um século com a confecção de peças utilitárias, panelas, moringas, brinquedos para as crianças, feitas por mulheres então chamadas de “paneleiras”. A cerâmica figurativa – que hoje faz sucesso em todo o mundo – , despontou na década de 1970 com as criações de grandes e originais artistas,  como Noemisa Batista dos Santos (1947) e Ulisses Pereira Chaves (1924-2006), ambos filhos e netos de oleiras. Uma tradição que vem sendo mantida geração após geração.

No dia 17 de outubro, quinta-feira, às 17h, será inaugurada na Sala do Artista Popular (SAP) do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNFCP-Iphan), a mostra Arte do barro, arte na vida – Caraí, MG, que vai até 24 de novembro mostrando justamente peças inéditas de autoria de familiares desses dois importantes ceramistas. Da família de Ulisses estarão expostas, entre outras obras, as máscaras e cabeças produzidas por seus filhos, Margarida Pereira Silva e José Maria Alves da Silva, e as cenas modeladas por sua neta Rosana Pereira Silva, em que sobressaem o diálogo com o avô, o encanto dos contos populares e dos filmes de animação. Já da família de Noemisa, estarão as bonecas de sua irmã Geralda Batista dos Santos, desde as que guardam na forma a moringa àquelas que retratam o cotidiano. Assim, a SAP abre suas portas para o legado da transmissão de saberes desses artistas.

Ceramica de Jose Maria Alves da Silva – Foto de Oscar Liberal

“Tudo, ou quase tudo, lá é feito de barro, as casas, os utensílios, os moveis… Até mesmo os pigmentos que colorem as peças de cerâmica são retirados do próprio barro”, conta a antropóloga Guacira Waldeck,  responsável pela pesquisa de campo que deu origem à exposição. Ela percorreu a região, sempre marcada pela alternância entre períodos de seca e de chuva e pela pequena produção agrícola, que agora passou também a se destacar pelo trabalho dos ceramistas. “É um trabalho lindo, com muitas atividades compartilhadas por todos os membros da família. Ali toda a cadeia de produ& amp; ccedil;ão é coletiva”, explica.
 

 

 

 

Ceramica de Margarida Pereira Silva – Foto de Oscar Liberal

Foi nos anos 50 que lideranças começaram a se mobilizar para a criação de um plano de desenvolvimento da região com políticas públicas de incentivo aos saberes tradicionais locais, como a tecelagem, a arte do couro e arte da cerâmica que foi a que mais despontou no mercado. Com o tempo, as  peças que eram produzidas para o uso cotidiano e eram vendidas em feiras locais foram dando espaço a uma produção mais singular e artística voltada para o mercado urbano e que também despertou o interesse de colecionadores de arte dentro e fora do Brasil. Criações de Noemisa e Ulisses, por exemplo, já integraram importantes exposições como Brésil Arts Populaires (Paris, 1987) e a Mostra do Redescobrimento (São Paulo, 2000) e fazem parte de acervos de vários  museus.  O paisagista Roberto Burle Marx (1909 – 1994)  construiu em seu sítio de Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, um pavilhão quase totalmente destinado à exposição das obras de Ulisses. Não é a toa que ele está entre os dez melhores artesãos da América latina e Caribe é conhecido no mundo da Arte como o Ceramista do Apocalipse. “O Brasil tem uma diversidade de saberes  extraordinária que chamamos de arte popular. E a incrível arte do barro do Vale do Jequitinhonha é um dos destaques dessa produção”, pontua Guacira.

Ceramica de Rosana Pereira Silva – foto de Oscar Liberal

Sala do Artista Popular (SAP)
A SAP foi criada em 1983, com o intuito de ser um espaço de exposições de curta duração, voltado para difundir e comercializar as obras de artistas e comunidades artesanais.  O catálogo de cada exposição é desenvolvido a partir de pesquisa etnográfica e documentação fotográfica realizada pela equipe do CNFCP.
Em decorrência da divulgação e do contato direto com o público, abrem-se oportunidades de expansão de mercado e da produção para esses artistas e comunidades. Desde sua criação já foram realizadas 198 exposições na SAP, sendo Arte do barro, arte na vida – Caraí, MG, a 199ª.

Serviço:
Local: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular Serviço – Sala do Artista Popular Endereço: Rua do Catete, 179. Telefone: 21 3826-4322
Exposição Arte do barro, arte na vida – Caraí, MG
Inauguração: 17 de outubro, às 17h
Período: 17 de outubro a 24 de novembro de 2019
Dias e horários:
Terça-feira a sexta-feira, das 11h às 18h
Sábados, domingos e feriados, das 15 às 18h
Entrada Franca

Realização:
Associação de Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro
Parcerias
Diretoria de Artesanato
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico
Subsecretaria de Desenvolvimento Regional
Superintendência de Desenvolvimento de Potencialidades Regionais

Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas
Escritório Regional de Araçuaí

Apoio:
Associação de Artesãos de Santo Antônio de Caraí

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